EDISON TSUNG CHI HSUEH
Edison Tsung Chi Hsueh, estudante de medicina da USP, no ano de 1999, foi morto em um trote estudantil na primeira semana de faculdade. Ele já tinha estudado na Santa Casa e fez a matrícula na nova faculdade nos dias 8 e 9 de fevereiro.
Edison nasceu em agosto de 1976 na cidade de São Paulo. Filho de Hsueh Feng Ming e Yen Yin Hwa Hsueh, que nasceram em Taiwan, viviam na Vila Cruzeiro, em Santo Amaro.

No dia 22 de fevereiro de 1999, estava acontecendo a aula inaugural na USP. O famoso dia do trote, que acontece em todas as faculdades, inclusive, os calouros foram pintados com tinta pelos veteranos.
Por volta do 12h, os calouros e veteranos, em um grupo com 200 pessoas em média, foram para a Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz, que pertence ao diretório acadêmico da Faculdade de Medicina da USP, para participarem de uma festa de confraternização, um evento tradicional da faculdade, onde aconteceria um churrasco. Mas por volta das 14 horas, o evento foi interrompido por conta de uma tempestade. Enquanto uma parte do grupo foi embora, a outra se refugiou no ginásio. A festa durou até as 18h, com muita bebida.




O corpo de Edison foi encontrado no dia seguinte, por volta das 7 da manhã, por um funcionário da área de limpeza, na piscina do ginásio. De acordo com um delegado, a piscina estava muito escura por conta do cloro em excesso presente, o que pode ter atrapalhado a visualização do corpo no dia anterior, sendo que alguns alunos mergulharam e não viram o corpo dele. A sua bermuda estava suja de tinta. Segundo o laudo do exame necroscópico, Edison morreu afogado entre 14h e 16h do dia 22 e não tinha sinais de agressões.
Um pouco mais tarde, foi revelado que a festa tinha apresentado agressividade dos veteranos aos calouros, sem contar da falta de segurança. Apesar de não saberem se a morte foi proposital ou acidental, havia pressão para que calouros ficassem na piscina, que tinha uma profundidade de até cinco metros, mesmo que não soubessem nadar. Além disso, havia elementos não planejados no evento, como uísque, vodca, pinga e frascos de lança-perfume.
Alguns relatos evidentes dos participantes:
"Veteranos [...] obrigaram uma caloura, que não sabia nadar, a entrar na piscina. A caloura avisou que não sabia nadar. Mas mesmo assim teve de entrar na piscina, coagida. Ela foi retirada da piscina por outros veteranos."
"Alguns veteranos bateram nas mãos ou no [ilegível] de calouros que descansavam na borda da piscina com chinelos e com baquetas de bateria, obrigando-os a se dirigirem para o meio."
"[...] Em certos momentos, os calouros se apoiavam na borda da piscina. Alguns veteranos pisavam nas mãos dos calouros, intimidando-os a permanecer na água [...]"
"[...] Havia mais de cem pessoas na água [...]"
"O que deveria ter sido feito, e não ocorreu, era um aviso sobre a profundidade da piscina."
"Talvez tenha faltado um salva-vidas numa piscina tão profunda."
"Havia muitos alunos alcoolizados, uma piscina funda e ninguém responsável para vigiar."
"A junção de pessoas alcoolizadas, com aquela piscina do lado, foi uma abertura para acidentes.

Logo após o ocorrido, a direção da faculdade abriu sindicância para apurar a morte de Edison e que, se fosse comprovado que o trote foi extremamente violento, haveria punição aos alunos envolvidos, incluindo pena de expulsão e ao centro acadêmico. Os alunos acabaram fazendo um pacto de silêncio e acabaram decidindo que não dariam informações à imprensa e que orientariam os jornalistas a procurar a direção da faculdade.
O estudante Frederico Carlos Jana Neto, conhecido como Ceará, foi preso por cinco dias após a gravação de um vídeo em que dizia, em tom de brincadeira: "Eu sou o assassino do calouro da USP. Eu matei o japonês afogado"
No inquérito policial instaurado para apurar as razões da morte do calouro, mais de 130 pessoas foram ouvidas. Em 2001, Ceará e Guilherme Novita Garcia, ambos médicos que foram apontados como os veteranos que lideraram o trote, foram indiciados por homicídio qualificado, junto com os estudantes de Medicina Luís Eduardo Passareli Tirico e Ari de Azevedo Marques Neto.
Em 2006, o caso acabou sendo arquivado. Segundo o Superior Tribunal de Justiça (STJ), não havia elementos para justificar as acusações. O Ministério Público recorreu da decisão, mas, em 2013, por cinco votos a três, a Suprema Corte confirmou a decisão e entendeu que o STJ tinha competência para trancar uma ação penal antes que o juiz de primeira instância analisasse o processo. Os pais de Edison também entraram ação contra a USP pedindo indenização por danos morais e materiais, exigindo pensão mensal de 7,5 mil reais e indenização equivalente a 20 mil salários mínimos. Porém, o Tribunal de Justiça de São Paulo entendeu que a universidade não era responsável pela piscina do Centro Acadêmico.
Em 2019, vinte anos após a morte de Edison, a mãe apareceu em jornais, pedindo justiça e que o caso fosse reaberto. Segundo ela, o pai do calouro morreu em 2008 devido à depressão causada pela morte do filho.
A morte de Edison levou a uma série de mudanças e discussão sobre trotes em universidades. A USP baniu os trotes em todos os campos universitários e criou um "Disque-Trote" para receber denúncias de trotes violentos. Em vez disso, os novos alunos de medicina são recebidos com palestras, tour pelo campus e ações educativas que também envolvem os pais. Em 9 de abril de 2003, a Câmara Municipal de São Paulo criou o Prêmio de Cidadania Universitária "Edison Tsung-Chi Hsueh" a ser concedido às entidades estudantis de nível superior que se destacarem na organização de recepções aos calouros, estimulando o exercício da cidadania, a preservação ambiental e a participação comunitária.
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